domingo, 17 de julho de 2016

Ugly Perverso

O que você está buscando é apenas ilusão!
Mas você tem razão:
Eu tenho estado bastante fria
Pra uma menina!

Eu não sou frágil!
Mas sei que também não sou forte
Pra suportar o seu olhar
sempre me avaliando.

Eu quero (sempre quis) aprender
a não chorar
em vão, nem escondida.
Eu juro que vou me trancar 
pra me manter protegida.
Talvez embaixo da pia
com minha franja tapando o rosto
pra não ter que te ver.

Você chegou e nenhum sorriso pra te receber!
Se foi você que me ensinou a ser assim,
como que agora vai permanecer à porta,
a vida inteira, pra se decidir a entrar.

Ando cansada de ter que fingir expressões,
Apenas não sinto!
Eu me tornei assim
E a culpa é sua!
Pois tenho estado bastante fria 
pra uma menina!

É melhor que não entre!
Eu não quero fingir pra você,
nem desviar dos seus olhos,
nem dizer coisa alguma
pra mostrar que suporto.

Devo ser objeto,
um ser inócuo e sobrevivente
entre os papéis de meus sonhos,
entre o engano.
Foi por engano
que eu nasci!

Estou embaixo do teto, desprotegida.
Estou aqui há muitos anos,
está desbotada a imagem da menina
de treze anos!

- Vamos esperar que ela cresça,
algum dia ela irá crescer,
mas vai morrer quase sempre!

Eles falavam de mim
Quando estourei os ouvidos
Pra jamais voltar a ouvir!




domingo, 26 de junho de 2016

Ausências Desconhecidas



Pensei que havia em minhas mãos
ainda um pouco de ti...
Lembrei daquele nosso lugar,
das noites sem lar,
dos desfiles das sombras,
quando me mantive uma última vez
a velar sobre tua luz.
Mas não encontrei nada
que pudesse reafirmar memórias antigas
com a mesma importância de outrora.
Somente um rancor
alado e feroz,
vampiro do tempo,
que suga as nossas lembranças!
...
Nascemos pela música do fruto rosa
com o pensamento sem cor e imaturo,
éramos irmãos!

Ó sonhar!
Ó tarde!
Ó vida!
De Ausências Desconhecidas!



domingo, 21 de fevereiro de 2016

Carrasco Caracol


Ele era doce sem nada dizer
E sádico sempre que queria.
De passos demorados,
Seus segredos no olhar,
Nenhum medo a demonstrar.
Suas Palavras Frias
Flagelavam-me!

"Quem é você aí dentro dessa casca vazia?"
Entre tantas outras
a Solidão é a sua companheira ativa!
Todo esse jogo de me enrolar pra não se envolver demais
com as suas regras tão mesquinhas...
Ainda assim eu decidia ficar por perto
E dormir como se fizesse parte de ti
Então eu te abraçava e me tornava o teu invólucro.
Mas as nuvens em passeata pela janela
Pareciam sussurrar "teu mundo é outro".

Eu nunca sabia aonde as suas palavras iriam me levar
me arrastando pra longe de tudo.
Seu olhar de "asfixiar o meu mundo"
forçava-me a silenciar mais um receio em mim.
Ao seu desejo eu me subjulgava
E em mim eu me tornava ôca
só pra te ofertar quem eu era.
Sua companhia era o meu pacto mórbido comigo mesma.
Eu aceitava o seu sarcasmo e não sabia mais ser boa
E achava que tudo era seguro
até sentir o frio estalo do teu beijo
despertando um impulso
mais profundo
que as dobras e vincos de minha roupa.

O seu abrigo nunca era eu
Então eu prosseguia com a angústia
de te perder a qualquer momento.

Algum dia as lembranças de quem nós éramos
retornarão pra te fazer lembrar
em que momento fiquei pra trás,
quando escolhi posar em tua prateleira
como representação de solidão perfeita.

Apenas observei
enquanto você ia se afastando
aos poucos
de mim
Essa foi a hora em que te amei
Meu carrasco caracol,
quando você ainda parecia não saber

Que o tempo é o pior algoz!



quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Fênix



Serpenteio estruturas suaves
  Que a chama de fogo consome
  Arde a alma   

  E brilha no escuro.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pelo Avesso

Desassossego



 


Aonde anda a minha alma?

Perco-me entre papéis e fotografias
Rabisco uma poesia
Logo mudo de idéia
Apago outro verso já escrito
Troco a letra
Não me encontro
Em nenhum canto
Deste quarto escorregadio
Ando para um lado, deslizo
Perco-me entre as lembranças
Nunca estou completa
Algo martela o prego da consciência
Deslizo de um lado para o outro
Atravesso o quarto todo
Até que um lado vira o outro
Passo até por mim mesma
Passo a sexta vez ao lado da cama
Saio e entro em meu corpo
Acendo e apago outra vez a lâmpada.

Olho-me pelo espelho
Nem sei mais se olho a mesma
Ou quem é que olha
Quem sou eu ou a imagem
Vejo o meu reflexo torto
Perfeita, imperfeita, figura inteira, metade.

Sou inconstante, não páro!
Vou pelo avesso, à porta me conserto
Rasgo o selo, racho o concreto.
À noite na cama não durmo
Viro, reviro-me
De peito pra cima ou de bruços
Nem existe mais lado certo.
Minha posição incerta é detalhe
Sempre que imponho uma idéia excluo algum fato
Rabisco aqui e ali
Cresce um monte de papéis no lixo
Já não interessa o que faço
Não existe mais certo ou errado.
Vario, mas sinto-me desperdiçada ainda
De andar sempre aqui neste cubículo
Com o meu brilho de vaga-lume
Nunca estou quieta
A mente faz exercitar as pernas
 minhas mãos eternamente inquietas.

Onde anda a minha alma?
A mão a mantinha presa
Junto a uma lapiseira
Que usei algumas vezes apenas por hábito.
Mas o ponteiro do relógio muda
Desafia um novo dia
E a roupa toda troco
Renovo outra muda
Porque estou num canto,
Na poltrona,
Parada na porta,
Ali em cima da cama.
Estou por toda parte
Sendo apenas uma.

A coragem de sair deste cubículo
Corresponde ao medo inquietante
Que me faz andar interiormente
Mudando sempre no mesmo ambiente
Que encerra todo o meu desassossego.