sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pelo Avesso

Desassossego



 


Aonde anda a minha alma?

Perco-me entre papéis e fotografias
Rabisco uma poesia
Logo mudo de idéia
Apago outro verso já escrito
Troco a letra
Não me encontro
Em nenhum canto
Deste quarto escorregadio
Ando para um lado, deslizo
Perco-me entre as lembranças
Nunca estou completa
Algo martela o prego da consciência
Deslizo de um lado para o outro
Atravesso o quarto todo
Até que um lado vira o outro
Passo até por mim mesma
Passo a sexta vez ao lado da cama
Saio e entro em meu corpo
Acendo e apago outra vez a lâmpada.

Olho-me pelo espelho
Nem sei mais se olho a mesma
Ou quem é que olha
Quem sou eu ou a imagem
Vejo o meu reflexo torto
Perfeita, imperfeita, figura inteira, metade.

Sou inconstante, não páro!
Vou pelo avesso, à porta me conserto
Rasgo o selo, racho o concreto.
À noite na cama não durmo
Viro, reviro-me
De peito pra cima ou de bruços
Nem existe mais lado certo.
Minha posição incerta é detalhe
Sempre que imponho uma idéia excluo algum fato
Rabisco aqui e ali
Cresce um monte de papéis no lixo
Já não interessa o que faço
Não existe mais certo ou errado.
Vario, mas sinto-me desperdiçada ainda
De andar sempre aqui neste cubículo
Com o meu brilho de vaga-lume
Nunca estou quieta
A mente faz exercitar as pernas
 minhas mãos eternamente inquietas.

Onde anda a minha alma?
A mão a mantinha presa
Junto a uma lapiseira
Que usei algumas vezes apenas por hábito.
Mas o ponteiro do relógio muda
Desafia um novo dia
E a roupa toda troco
Renovo outra muda
Porque estou num canto,
Na poltrona,
Parada na porta,
Ali em cima da cama.
Estou por toda parte
Sendo apenas uma.

A coragem de sair deste cubículo
Corresponde ao medo inquietante
Que me faz andar interiormente
Mudando sempre no mesmo ambiente
Que encerra todo o meu desassossego.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tédio

Foto: Zorah



Tudo parece igual
Estou transtornada com a calma
Meus livros estão no lugar
E minhas roupas ainda limpas.

Tudo parece estar calmo
Meu violão está guardado
Teias de aranha no teto
Poeira nos copos e tédio

Meu rádio já não toca,
o telefone também.
Meus cd´s
empilhados na estante.


terça-feira, 31 de maio de 2011

Inutilidades

Expectancies, Sergey Ignatenko

Camisa Listrada
Meias Pretas
Botas Gastas
Lembranças que não servem.
A sala vazia
O quarto sombrio.
Nas paredes, redemoinhos
de teias lustrosas.
Um mar calmo
de solidão precoce.
Toda a confusão gerada
para além de camisa listrada,
de meias pretas,
de botas gastas.


 



terça-feira, 24 de maio de 2011

Inovações

Foto: Zorah

 Chega um dia
em que a voz que era doce perturba
 como gemidos num açoite.

Os meninos verdes estão debaixo das folhas úmidas.
Os papéis, espalhados, estão encharcados.
O céu chorou sem precisar se esconder.

 

O ambiente desaparece num redemoinho.


sábado, 14 de maio de 2011

Ave Aprisionada





 
Quedo-me indefesa
chocando minhas penas
entre as paredes frias do teu ego.

Inútil, assim permaneço.
Imóvel, mas sempre ao alcance.
Porém rejeitada a todo instante.

Engaiolada em sua mente
eu me encolho e sofro sempre.
Algumas vezes sou o teu sonho
que tu não recordas
ao levantar pela manhã.

Na frente do espelho a minha asa entorta.
Estou em seus olhos
mas você nunca nota
...

Qualquer idéia disforme.




sábado, 7 de maio de 2011

Recôncavos


Não quero mais me encontrar.
Nessa de me buscar
sempre que me encontro
não sou mais eu.

Agora só quero me perder.



terça-feira, 3 de maio de 2011

Escritos na Areia



Despedidas



Foto: Boris Kossoy.

Pressentimentos recentes
de lenços que não cessam
nunca de adeus.
Lágrimas contidas
 e conversas vazias.

Não há como entender
por quê se constrói alicerces
para a alma
se ela queda frágil
e em silêncio
a cada despedida.

Um espectro que sobrevive
fixa-se no pensamento
e pede reencontro.
Mas, desse caminho não há volta.

Pálidos lenços ensaiam um adeus...
Gestos que se despedem
aos poucos
na memória.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

Do teu Oceano



Hoje o teu oceano entornou
Fazendo girar constelações semi-esquecidas,
trouxe uma pérola  que se calou
entre frias mãos de menina,
Poucos momentos de verdades em grãos,
muitas respostas despedidas.

Lembranças algumas vezes substituídas
desembocavam
ameaçadas de extinção.
 
 
 

domingo, 10 de abril de 2011

Mar (des)conhecido


  

     "Eu que não sei quase nada do mar
       descobri que não sei nada de mim.

        ... Já  não tenho medo de saber
                     quem somos
                      na escuridão."



            (A.Carolina e Jorge Vercillo)



 

Foto: Zorah.

 Que sensação é essa que de repente deságua em mim?
Seria um mar conhecido, mas tão escuro e profundo
 que nele não há fim?

Que sensação é essa que de repente deságua em mim?
O escuro céu do teu olhar de estrelas inalcançáveis...
Constelações inteiras, Naves?

 
Que sensação é essa que de repente deságua em mim?




sábado, 9 de abril de 2011

A tua Ausência



Uma imagem foi se afastando pelas nuvens.
A angústia é silenciosa como o andar de um gato.
Os fantasmas já se esconderam pelos cantos,
já não assustam, já não importam.

Tentei consumir outro gole d'água,
mas não existe mais a sede.
Pois a tempestade que veio
apagou o meu desejo.

Toda a água agora é simples.
A tua Ausência é tranqüila
igual à minha sombra
e me acompanha sempre.



quinta-feira, 31 de março de 2011

Perfeito Melancólico

"Tentando apartar-se dos próprios sentimentos
e olhar para eles como para um objeto que se examina.

Nada mais existia para ela."

(Melancólica Villegiatura, Marcel Proust)



Desolação




 O louco sonho que habitava a minha alma dançou pelo vazio da minha vida, cavalgou confuso na escuridão de um dia. Desabitou-me de repente como se fosse morte, restou um luto, silêncio-alívio...

Viuvez de meus Sonhos que nunca fizeram sentido.



segunda-feira, 28 de março de 2011

Interrupção




Entre tanto medo e solidão
meus olhos brilham.
Mas não sou mais
quem deveria.

Eu sigo pela escadaria a passos indecisos.
Esperam por mim, mas passo fria

e eternamente sem voz.

Tudo em mim quer respirar em paz.
Ignoro todas as mãos que se estendem.
A cada abraço sinto mais frio.
Beijam-me a face com ares de Judas.


E nunca me entendem.



domingo, 27 de março de 2011

Desvelar


Que tempestade foi essa
Que passou Invencível, Abalável?

Reconheço o meu corpo
Estrela absurda
Que outrora mentia
Apaga-se aos poucos.

Inútil
a minha Verdade.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Bosque da Solidão





Ruas Frias e Escuras
por onde passei.
Prédios agitavam-se em filas
desejando os céus.

À minha vista tudo morre.
Nenhum pensamento encontra sentido.
Prossigo, mas tudo continua,
nada identifico.

Meus pés chegam sozinhos
ao bosque da Solidão.
Mas nele não mora mais
nenhum anjo
da minha antiga canção.
Ou morreu da espera
ou não existe mais meu coração.

Ruas
Frias e Escuras
por onde passei.


sexta-feira, 4 de março de 2011

Proêmio

 

 


 Sempre estou indo embora, levando junto comigo os meus sonhos, não é pesado sonhar, pesado é viver, por isso é necessário olhar para o horizonte antes de sair e perceber que só se vai além porque a vida começa por si mesma, o tempo todo e em tudo. Além de prédio há vida, atrás de tanto cinza um verde chora todos os dias pela piedade do homem.
 



"O poeta vai pela rua,
ninguém está vendo o poeta
porque o poeta é transparente."
(Jorge Tufic) 
 
 


E assim, escolho partir com as minhas líricas asas,  para ir sentar junto à janela de sua alma e observar o que há de melhor nela, compartilhar o meu ópio  ou  minhas dores de ser... assim que me inventei um dia,  é apenas desse modo que espero nunca ter de partir!