Desassossego |
Aonde anda a minha alma?
Perco-me entre papéis e fotografias
Rabisco uma
poesia
Logo mudo de
idéia
Apago outro
verso já escrito
Troco a
letra
Não me
encontro
Em nenhum
canto
Deste quarto
escorregadio
Ando para um
lado, deslizo
Perco-me
entre as lembranças
Nunca estou
completa
Algo martela
o prego da consciência
Deslizo de
um lado para o outro
Atravesso o
quarto todo
Até que um
lado vira o outro
Passo até
por mim mesma
Passo a
sexta vez ao lado da cama
Saio e entro
em meu corpo
Acendo e
apago outra vez a lâmpada.
Olho-me pelo
espelho
Nem sei mais
se olho a mesma
Ou quem é
que olha
Quem sou eu
ou a imagem
Vejo o meu
reflexo torto
Perfeita,
imperfeita, figura inteira, metade.
Sou
inconstante, não páro!
Vou pelo
avesso, à porta me conserto
Rasgo o
selo, racho o concreto.
À noite na
cama não durmo
Viro,
reviro-me
De peito pra
cima ou de bruços
Nem existe
mais lado certo.
Minha
posição incerta é detalhe
Sempre que
imponho uma idéia excluo algum fato
Rabisco aqui
e ali
Cresce um
monte de papéis no lixo
Já não
interessa o que faço
Não existe
mais certo ou errado.
Vario, mas
sinto-me desperdiçada ainda
De andar
sempre aqui neste cubículo
Com o meu
brilho de vaga-lume
Nunca estou
quieta
A mente faz
exercitar as pernas
minhas
mãos eternamente inquietas.
Onde anda a
minha alma?
A mão a
mantinha presa
Junto a uma
lapiseira
Que usei
algumas vezes apenas por hábito.
Mas o
ponteiro do relógio muda
Desafia um
novo dia
E a roupa
toda troco
Renovo outra
muda
Porque estou
num canto,
Na poltrona,
Parada na
porta,
Ali em cima
da cama.
Estou por
toda parte
Sendo apenas
uma.
A coragem de
sair deste cubículo
Corresponde
ao medo inquietante
Que me faz
andar interiormente
Mudando
sempre no mesmo ambiente
Que encerra
todo o meu desassossego.
Nenhum comentário:
Postar um comentário